terça-feira, janeiro 16

VARIÁVEIS DE RISCO PARA A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA - 1


Gláucia da Motta Bueno

I - ADOLESCÊNCIA, SEXUALIDADE E GRAVIDEZ
Parte 1
1.1 – Adolescência e Comportamento Sexual

A adolescência é um período de vida que merece atenção, pois esta transição entre a infância e a idade adulta pode resultar ou não em problemas futuros para o desenvolvimento de um determinado indivíduo.
No entanto, para entender como a adolescência pode favorecer o aparecimento de problemas como a gravidez precoce, o alcoolismo, abuso de drogas, entre outros, é necessário uma breve revisão sobre este período.
A palavra adolescência vem do latim “adolescere” que significa “fazer–se homem/mulher” ou “crescer na maturidade” (Muuss, 1982 apud Kimmel & Weiner, 1995, p. 2), sendo que somente a partir do final do século XIX foi vista como uma etapa distinta do desenvolvimento (Reinecke, Dattílio & Freeman, 1999).
Atualmente, a adolescência se caracteriza como uma fase que ocorre entre a infância e a idade adulta, na qual há muitas transformações tanto físicas como psicológicas, possibilitando o surgimento de comportamentos irreverentes e desafiantes com os outros, o questionamento dos modelos e padrões infantis que são necessários ao próprio crescimento (Kahhale, Odierna, Galleta, Neder & Zugaib, 1997b; Banaco, 1995; Beaufort, 1996; Kimmel & Weiner, 1995; Muuss, 1996).
Gláucia da Motta BuenoR

Esta é a dissertação de mestrado da psicóloga Gláucia da Motta Bueno. Trata-se de um estudo sobre as variáveis de risco para a gravidez na adolescência.

É um tema oportuno na medida em que passamos por, pelo menos, duas crises envolvendo essa questão: a procriação humana inconseqüente ou sem planejamento e, em segundo, a banalização da maternidade em idades cada vez mais precoces.
Colocamos em PsiqWeb a Introdução do trabalho, que nos dá perfeitamente uma boa idéia da pesquisa e a conclusão, igualmente importante para a compreensão do tema. Isso totalizou 3 páginas.
Para interessados, disponibilizamos para download um arquivo zipado em .doc do trabalho todo. Para conseguí-lo clique aqui.


Ana Rafaella C. BezerraAndreza Trigo RibeiroAngela Cristini GebaraCarmen Sylvia RibeiroCasiana T. ChalegreCésar de MoraesCibele Cintra SouzaCláudia D'AndrettaCleber Monteiro MunizDaniela Sá L. GuimarãesDiany I. de SouzaGláucia da Motta Bueno Glaucio Menoni HonoratoMagda VaissmanRenata RigacciRosângela Maria Bassoli

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a adolescência compreende um período entre os 11 e 19 anos de idade, desencadeado por mudanças corporais e fisiológicas advindas da maturação fisiológica (Kahhale, 1997).

Na literatura (Muuss, 1996), o término da adolescência é definido em termos sociais, ou seja, é marcado por rituais de passagem como, por exemplo, o casamento.

Contudo, no Brasil a adolescência possui diferentes configurações, pois depende da classe social em que o adolescente está inserido. Nas classes mais privilegiadas, é entendida como um período de experimentação sem grandes conseqüências emocionais, econômicas e sociais; o adolescente não assume responsabilidades, pois dedica-se apenas aos estudos, sendo essa a sua via de acesso ao mundo adulto. Enquanto nas classes mais baixas, que representam aproximadamente 70 milhões de adolescentes com menos de 18 anos, os riscos do experimentar, tentar, viver novas experiências são maiores e não há a possibilidade de se dedicar somente aos estudos, tornando a adolescência simplesmente, um período que antecederá a constituição da própria família (Kahhale et al, 1997b; Pereira, 1996).

As mudanças físicas ocorrem devido ao aumento da produção hormonal neste período, o que pode provocar uma alteração das emoções, portanto, explicando a perda de controle e desequilíbrio psicológico do adolescente (Kimmel & Weiner, 1995; Pereira, 1996).

No entanto, para a análise do comportamento, essa alteração das emoções no adolescente pode ser explicada através do papel do ambiente em sua vida, ou seja, seus comportamentos podem ser fruto de uma interação com um ambiente punitivo que não possibilita o aumento e a adequação do seu repertório comportamental. Muitos destes comportamentos são esquivas de um ambiente aversivo. Os problemas do adolescente está em sua relação com o mundo (Banaco, 1995).

Esta postura é compartilhada com a teoria da aprendizagem social que também acredita que o comportamento é primeiramente determinado pelos fatores sociais e ambientais, operando com o contexto situacional particular (Muuss, 1996).

Evidentemente as modificações biológicas são importantes, mas o desenvolvimento psicológico dos adolescentes é mais determinado pelo ambiente sócio-cultural em que vivem (Kimmel & Weiner, 1995), portanto este é o foco da análise do comportamento.

A maior contribuição das mudanças biológicas, do ponto de vista cultural, é a "transformação do estado não reprodutivo ao reprodutivo" (Schlegel & Barry, 1991 apud Muuss, 1996, p. 385), pois o amadurecimento do sistema reprodutivo impõe os limites para cada sexo (Kahhale, 1997); neste contexto, surge a sexualidade na adolescência; sendo esta temática de relevância mundial, pois tanto dificuldades como desafios que aparecem aos adolescentes ocorrem independentemente da diversidade cultural, étnica e social (Carvalho, 1999).

Acompanhando as alterações hormonais, o comportamento sexual do adolescente é um produto de fatores culturais presentes no ambiente, que cada vez mais erotiza as relações sociais (Silvares, 1999; Banaco, 1995; Muuss, 1996).

No entanto, o comportamento sexual tem como principal função a sobrevivência da espécie, ou seja, é um comportamento biologicamente determinado, encontrando-se social e culturalmente controlado, o que não permite dizer que o comportamento sexual do adolescente é controlado por um único conjunto de procedimentos (Skinner, 1998).

A sexualidade do adolescente pode se expressar através do relação heterossexual e/ou homossexual, da masturbação e de fantasias (Muuss, 1996; Masters, Johnson & Kolodny, 1988).De acordo com alguns autores (Banaco, 1995; Strasburger, 1999; Muuss, 1996), este comportamento durante a adolescência deve-se às expectativas sociais e à modelação a partir da televisão, filmes e músicas que influenciam o espectador desde a mais tenra idade.

A modelação é definida por Bandura (1979) como a aprendizagem vicária de comportamentos, ou seja, através da observação de modelos, pode-se adquirir padrões de respostas autonômicas, motoras e/ou cognitivas, sendo que esses modelos podem ser reais ou simbólicos, tais como personagens de filmes e livros.
Porém, aprender por observação é diferente de aprender por imitação, pois a imitação não implica que o organismo que imita tenha aprendido alguma coisa sobre as contingências que estão operando no ambiente, sendo que nem toda imitação produz conseqüências muito vantajosas, ou seja, a imitação reproduz fielmente aquilo que o indivíduo observou (Catania, 1999).
Assim, pode-se entender melhor o que acontece no comportamento sexual do adolescente, parece que algumas vezes comporta-se por imitação e não pela modelação, pois muitos comportamentos que emitem, resultam em conseqüências mais punitivas que reforçadoras, a exemplo a própria gravidez na adolescência.

De acordo com Bandura (1979), quando o comportamento de imitação é positivamente reforçado e respostas divergentes não são recompensadas ou são punidas, o comportamento dos outros começa a funcionar como estímulo discriminativo para o reforçamento no controle das respostas sociais.

Dessa maneira, talvez os processos de modelação também possam ser utilizados no controle da gravidez na adolescência. Embora em alguns casos, a gravidez possa trazer conseqüências reforçadoras, como o casamento precoce entre adolescentes, muitas vezes traz conseqüências punitivas a curto e longo prazo, como o convívio com condições econômicas precárias devido ao despreparo social e psicológico dos adolescentes para exercerem a paternidade e o abandono aos estudos (Cunha et al,1999; Wong & Melo, 1987; Fávero & Mello, 1997).

A análise skinneriana dos fenômenos da modelação apóia-se sobre o paradigma dos três termos Sd * R * Sr, onde Sd representa o estímulo discriminativo modelado, R uma resposta manifesta de emparelhamento e Sr o estímulo reforçador (Bandura, 1979).

É difícil notar como esse esquema de aprendizagem pode ser aplicado na aprendizagem por observação, a qual o observador não desempenha manifestamente as respostas do modelo durante a fase de aquisição, em que os reforços não são administrados quer ao modelo, quer ao observador e em que o primeiro aparecimento da resposta adquirida pode ser retardado por dias, semanas e meses (Bandura, 1979).

No último caso, que é uma das maneiras predominantes de aprendizagem social, dois dos eventos (R * Sr) do paradigma dos três termos estão ausentes durante a aquisição, e o terceiro elemento (Sd ou estímulo modelador) está tipicamente ausente na situação em que a resposta aprendida por observação ocorre (Bandura, 1979).

Em relação ao comportamento sexual do adolescente, considerando essa análise, pode-se dizer que filmes, músicas ou novelas atuam como estímulo discriminativo modelador para que o adolescente inicie precocemente sua vida sexual, obtendo como reforço imediato o prazer de experimentar tal situação, resultando em uma comportamento modelado pelas contingências.
Durante as décadas de 70 e 80, a produção de filmes com a "exploração sexual" de adolescentes foi grande; Hollywood apelou para os adolescentes por serem o maior segmento da população que vai aos cinemas. Muitos são os filmes que lidam com o sexo na adolescência, porém de maneira inadequada, pois nestes, a relação sexual e a contracepção estão muito distantes, além de favorecerem a promiscuidade (Strasburger, 1999).

Estes filmes podem ser vistos como incentivadores ao adolescente para que inicie sua vida sexual sem medidas contraceptivas, favorecendo em conseqüência disto, a gravidez na adolescência quando os processos de modelação são considerados na instalação de novos comportamentos no repertório do indivíduo, pois o adolescente sem discriminar as contingências implicadas, preocupa-se apenas com a obtenção do reforço imediato - o prazer das relações sexuais - sem pensar nas conseqüências aversivas que podem ocorrer em virtude do seu comportamento.
Um estudo realizado por Corder-Bolz (1981 apud Strasburger, 1999) mostrou que as gestantes adolescentes apresentavam-se duas vezes mais propensas a pensar que os relacionamentos da televisão são como aqueles da vida real do que as adolescentes não-grávidas, e que as personagens não usariam contracepção, se envolvidas em um relacionamento sexual, o que demonstra a falta de discriminação da complexidade desta situação.
Assim, o comportamento sexual do adolescente pode ser visto como sendo mais um produto de contingências ambientais do que meramente um efeito derivado de mudanças hormonais, pois é no ambiente que se pode encontrar as condições que favoreçam a sua manifestação.

1.2 - Gravidez na Adolescência
A gravidez é uma fase da vida que não depende da idade da mulher (Sarmento, 1990), pode ocorrer a qualquer momento desde de que haja as condições fisiológicas e ambientais apropriadas para propiciá-la.
Durante anos, em todo o mundo, atribuiu-se demasiada importância à fertilidade, evitando-se a esterilidade, pois ter filhos era a maneira do casal prevenir-se da velhice e transmitir o seu nome (Ramos & Cecílio, 1998).
Com a gravidez, tanto o homem como a mulher, encontram a maneira ideal para definirem-se e identificarem-se como tal, através dela é que se confirma a potencialidade do homem e da mulher permitindo a continuidade da família e a criação de algo próprio (Kahhale, 1997). Dessa forma, pode-se dizer que a gravidez representa um período de relativa importância e muitos significados.

As sociedades indígenas, valorizavam muito a fertilidade feminina e quando a mulher não podia ter filhos, trazia-se outra para tê-los em seu lugar (Ramos & Cecílio, 1998). Ao longo dos tempos a gravidez assumiu diversas caracterizações; antigamente a mulher engravidava várias vezes, tendo um grande número de filhos; atualmente ainda há famílias que vêem a gravidez com entusiasmo e alegria, obviamente isso depende de como cada gravidez é vista e vivida no meio familiar, o qual é fortemente influenciado pelos aspectos socioeconômicos e culturais (Ramos & Cecílio, 1998).
No entanto, nos dias de hoje a mulher opta por ter poucos filhos, ou tê-los em idade mais avançada, ou ainda, não tê-los em alguns casos.
A gravidez continua tendo um papel parental biologicamente determinado, assim como o parto e a amamentação, podendo servir como um dos eventos socializadores da mulher, pois estabelece novas relações com as figuras parentais, amigos e familiares (Eiras, 1983; Kahhale, 1997). Atualmente, a inserção feminina no mercado de trabalho também pode ser vista como um evento socializador, o que há alguns anos atrás ocorria somente entre os homens. Essa transformação da mulher aconteceu em função do custo de vida elevado da atualidade, levando-a a trabalhar fora, deixando de cuidar apenas dos filhos e da casa como antes fazia.

Por essa razão, entre outras, a gravidez na adolescência causa preocupações à sociedade, pois os jovens muitas vezes encontram-se despreparados para enfrentar o mercado de trabalho, o que pode torná-los marginalizados agravando o quadro de pobreza do país (Cunha et al, 1999; Wong & Melo, 1987; www. uol. com.br/psicopedagogia/artigos/ gravidez.htm, 1999).

A gravidez é um período de vida da mulher, no qual ocorrem profundas transformações endócrinas, somáticas e psicológicas que repercutem em sua vida. Essas mudanças ocorrem da mesma maneira durante a adolescência, o que de acordo com alguns autores (Galletta et al, 1997; Kahhale, 1997a; Sarmento, 1990; Maldonado, 1997) favorece o agravamento da crise comum a ambas as fases do desenvolvimento, pois alegam que gravidez e adolescência são períodos críticos de vida.

O termo crise diz respeito àqueles períodos de transição inesperados como àqueles aspectos inerentes ao desenvolvimento; as crises são precipitadas por mudanças internas ou externas, tendo como principal característica o fato de constituir uma encruzilhada para a saúde mental (Maldonado, 1997).

Nesse sentido, a gestante adolescente merece toda atenção dos profissionais da saúde com o intuito de amenizar as dificuldades deste período, como no programa do Adolescente da Secretaria Estadual da Saúde que já atendeu mais de 220 mil garotas. O programa foi instalado no Hospital das Clínicas de São Paulo e em 112 postos de saúde, nos quais mais de 500 profissionais de 150 cidades do Estado de São Paulo receberam treinamento inicial para a formação de equipes e a metodologia empregada atraiu o interesse de profissionais da saúde de países como a Itália, Estados Unidos e França. As gestantes adolescentes passam por diversas etapas de atendimento que compõem um diagnóstico ágil que enfatiza os aspectos educacionais, desenvolvem atividades artesanais, além de receberem atendimento ginecológico básico e quando necessário podem passar por fonoaudiólogos, terapeutas, nutricionistas e até dentistas, orientações quanto à contracepção, atividade sexual e estímulo à auto-estima (Órgão Oficial do Cremesp, 1999).

Para Sarmento (1990), a vivência da maternidade durante a adolescência torna-se mais complicada, pois as exigências que aparecem na busca da identidade do adolescente, acrescenta-se à grande exigência do "tornar-se mãe".

Este quadro pode ser mais grave quando ocorrido em um ambiente menos favorável. No Brasil, onde a adolescência possui diferentes configurações, por exemplo, uma jovem de classe baixa que engravida encontra maiores dificuldades devido as suas condições socioeconômicas precárias e à falta de apoio, muitas vezes, da própria família e do parceiro (Kahhale et al, 1997b; Cunha et al, 1999; Wong & Melo, 1987 & Mahfouz et al, 1995).

Em 1998, no Brasil, foi registrado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) quase 700 mil partos de mães com idade entre 10 e 19 anos, tendo gasto cerca de R$153 milhões em gestações de adolescentes (www. uol.com.br/psicopedagogia/artigos/gravidez.htm, 1999); isso deve-se à completa falta de informação, de educação sexual e a insegurança do adolescente em utilizar métodos contraceptivos (Órgão Oficial do Cremesp, 1999). Assim, a gravidez, que na maioria dos casos não foi planejada, aparece em destaque entre os problemas sociais e de saúde pública (Carvalho, 1999).

Sabe-se que o número de adolescentes que engravidam aumenta progressivamente e em idades cada vez mais precoces, pois a idade da menarca tem se adiantado por volta de quatro meses por década do século XX, sendo que a idade média para que ocorra é de 12,5 a 13,5 anos, expondo a adolescente a engravidar cada vez mais cedo (www. geocities.com/ Heartland/Plains/8436/ gravidez/html, 1997).

A revolução sexual das décadas de 60 e 70 em conseqüência do movimento feminista (Fávero & Mello, 1997), favoreceu o aumento da gravidez na adolescência, não somente no Brasil, mas em outros países como os Estados Unidos, onde na década de 70 ocorreu uma "epidemia" de adolescentes grávidas (Goldenberg & Klerman, 1995).

De acordo com Wong & Melo (1987), a crescente tendência da liberação do comportamento social, especificamente, o sexual, contribui para o aumento da gravidez na adolescência, devido à falta de conhecimento do próprio corpo enquanto função reprodutora, vinda da falta de uma educação esclarecedora tanto no âmbito familiar como no escolar e social.

Nesse contexto, é interessante que as escolas, tanto públicas quanto particulares, enfatizem a educação sexual para os jovens, esclarecendo suas dúvidas e lhes oferecendo toda orientação a respeito do assunto.

Em 1996, 29.520 garotas de 11 anos de idade engravidaram no Brasil (www. geocities.com/ Heartland/Plains/8436/ gravidez/html, 1997). Atualmente, no Brasil, a cada quatro milhões de mulheres que engravidam anualmente, um quarto delas são gestantes adolescentes (Galletta et al, 1997; www. uol.com.br/psicopedagogia,artigos/gravidez.htm, 1999). Além disso, o parto normal tem sido a primeira causa de internação de jovens entre 10 e 14 anos de idade nos hospitais conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS) em todos os estados do país (www. planetabrasil.com. br/gravidez.htm, 1998).

Nos Estados Unidos, em 1992, 12,7% dos bebês nascidos vivos eram de jovens com menos de 20 anos de idade (Goldenberg & Klerman, 1995). De acordo com Rome et al (1998), a gravidez na adolescência tornou-se um grande problema nesse país, pois a cada um milhão de adolescentes que engravidam 84% não querem ser mães, o que favorece o aparecimento de um outro problema - o aborto, algo que também ocorre no Brasil, principalmente nas classes sociais mais privilegiadas que vêem nele, a solução para o problema da gravidez da jovem adolescente (Cunha et al, 1999).

No entanto, isso ocorre sem os pais adolescentes assumirem, mais uma vez, a responsabilidade sobre a decisão de ter ou não o bebê, reproduzindo os possíveis determinantes do crescimento da gravidez na adolescência: a falta de responsabilidade e desorientação dos jovens (Cunha et al, 1999).

Um outro inconveniente da gravidez durante a adolescência, diz respeito às funções fisiológicas, ou seja, as adolescentes representam um grupo de alto risco obstétrico, pois apresentam um elevado nível de complicações quando comparadas às demais, além de favorecer o nascimento de bebês prematuros ou quando a mãe possui idade inferior a 13 anos, tem duas vezes e meia a mais possibilidade de gerar um bebê com baixo peso (Goldenberg & Klerman, 1995; Mahfouz et al, 1995; Du Plessis, Beel & Richards, 1997; Phipps-Yonas, 1980; Masters, Johnson & Kolodny, 1988; www. geocities. com/ Heartland/ Plains/ 8436/gravidez.htlm, 1997).

Os efeitos da gravidez na adolescência quanto aos resultados clínicos causam controvérsias (Goldenberg & Klerman, 1995), como exemplo dessa polêmica, pode-se citar um estudo realizado na Arábia Saudita (Mahfouz et al, 1995) que aponta os mesmos riscos para jovens e mulheres entre 20 e 35 anos para desenvolverem anemia e hipertensão.
Esses autores alegam que a adolescência não aumenta os riscos obstétricos, já que neste país é muito comum o casamento antes dos 20 anos de idade e que a taxa de concepção entre as jovens não foi, neste estudo, diferente àquelas com idade entre 20 a 35 anos de idade. Preocupam-se com os aspectos sociais e econômicos, ou seja, para eles em uma sociedade que provê suporte socioeconômico e um bom acesso aos cuidados pré-natais, a adolescência não pode ser considerada um grupo de alto risco para a gravidez.

Acredita-se, atualmente que os riscos da gravidez durante a adolescência seja mais determinado por fatores psicossociais relacionados ao ciclo da pobreza e educação existente, e fundamentalmente, a falta de perspectivas na vida dessas jovens sem escola, saúde, cultura, lazer e emprego; para elas, a gravidez pode representar a única maneira de modificarem seu status na vida (www. uol.com.br/psicopedagogia/artigos/gravidez.htm, 1999).

Sabe-se que em sociedades pré-industrializadas, a atividade sexual e conseqüentemente a gravidez são fenômenos seguidos geralmente da menarca; porém, o Brasil não se trata de uma sociedade pré-industrializada e sim, apesar de dependente, uma sociedade capitalista ligada a muitas circunstâncias que deveriam tender a prorrogar a entrada no casamento e o intercurso sexual (Wong & Melo, 1987).

Mais uma vez pode-se notar o impacto do ambiente na gravidez durante a adolescência e que esta depende de variáveis culturais, sociais e individuais presentes em cada comunidade, as quais serão apresentadas a seguir.

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