terça-feira, janeiro 16

Gravidez na adolescência

Excertos do Seminário "Luas e Marés", sobre gravidez e maternidade na adolescência que decorreu na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa
Intervenientes: Fátima Palma, médica da consulta de adolescentes; Evert Ketting, sociólogo

Desde tempos imemoriais que a sociedade considera a gravidez como um problema no feminino, um problema da mulher. A portadora da capacidade de gestação de uma nova vida é também a portadora da aprovação ou reprovação social de que a sua circunstância particular e individual se revista.
A própria terminologia escolhida para referir o facto é indiciadora da aprovação ou reprovação que vai junto. Se “vai ter um menino”, é alvo de cumprimentos e regozijo – tudo se passa bem – a sociedade reconhece ( e agradece). Se “está grávida”, faz provavelmente parte de uma estatística, de um programa, de um estudo, está de visita ao médico, ou é alvo da cobiça do mercado de oferta ao consumo.
Se “está de barriga”, está claramente em maus lençóis. Quer esteja a ser objecto de chiste, de censura, de admoestação ou de pura coscuvilhice e de diz-que-diz, está fora do estado de graça da (re)produção com aval burguês.
Nestes tempos de “sociedade de informação” em que, supostamente, os nossos jovens adultos estão preparados com uma educação sexual que, na verdade, não se sabe bem de onde venha, para além das deduções e inferências retiradas das máquinas publicitárias e dos mass media, com especial relevo para telenovelas, canais e programas mais ou menos eróticos, publicitação mais ou menos explícita de linhas eróticas e ausência ou demissão frequentes de referentes próximos e valores familiares aberta e claramente dialogados.
Responsabilizar os adolescentes por um estilo de vida demasiado “solto”

Responsabilizar Os Homens Terça-feira, 21 de Novembro de 2000
A sociedade tem assumido que a gravidez é um problema feminino, o que leva a que os homens sejam muitas vezes encarados como os "maus da fita".
A educação sexual e a informação contraceptiva são direccionadas sobretudo para as raparigas, ficando os rapazes à margem dos problemas que envolvem gravidez e sexualidade.
Foi esta uma das questões levantadas ontem por Fátima Palma, da Consulta de Adolescentes da Maternidade Alfredo da Costa, no seminário sobre gravidez e maternidade na adolescência "Luas e Marés", que decorreu em Lisboa.
A especialista defendeu que uma das soluções poderá ser a criação de instituições e serviços de saúde próprios para homens e orientados por homens. Estruturas centradas no papel masculino são, segundo Fátima Palma, fundamentais para criar uma atitude positiva e responsável no comportamento sexual dos rapazes.
Também o sociólogo holandês Evert Ketting considera que para combater a "irresponsabilidade do comportamento sexual" nos rapazes "é necessário compreender a sexualidade masculina na época moderna".
Ketting afirma que "os rapazes são postos à parte no que respeita à informação, educação, orientação e serviços de aconselhamento no campo da sexualidade". As Clínicas de Planeamento Familiar muito contribuem para a desresponsabilização dos jovens homens, pois tornaram-se instituições eminentemente femininas.
A pílula reforça igualmente esta ideia, porque proporciona às mulheres a possibilidade de se protegerem, independentemente do seu parceiro, referiu.
Os rapazes acabam por confiar muito no comportamento preventivo das suas parceiras sexuais. Segundo um projecto de investigação holandês, na primeira relação sexual apenas 53 por cento dos rapazes utilizaram preservativo e, nestes casos, 40 por cento das jovens estavam a tomar a pílula.
Um problema que é preciso combater através da obrigatoriedade de educação sexual nas escolas, a formação de professores em sexualidade masculina, o desenvolvimento de informação especialmente destinada aos rapazes e a criação de centros de informação específicos para o sexo masculino, concluiu o sociólogo.


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